Sou negro
Sou negro,
não sou mulato;
não tenho cara de mula,
e nem sirvo de morada aos carrapatos...
Sou baiano,
ai que saudade do Conselheiro!
Minha carabina guardei em casa,
meu pai já foi cangaceiro...
Sou negro do violão
batizado nas noites de luar;
no prosseguir das paixões,
bem que a floresta quis me cativar...
Sou baiano de Ibipetum,
fui tangido do sertão;
pensaram que a cidade grande fosse me embranquecer,
mas sou negro até no coração!..
Num dia negro da história
encontrei o meu amor;
se tá tudo negro, tá tudo certo,
hoje tenho um calor...
Sempre fiz minhas “negrices”
porque sempre fui correto;
não machuco quem me ama,
hoje do amor estou mais perto...
Sou negro da cor das estrelas,
dos antepassados que construíram o mundo;
hoje a arquitetura moderna tenta copiar
o que Pai José com seu cigarro de palha
fez no “casarão do sol profundo”...
Sou negro,
meu bisavô veio da África também;
a terra que gerou as verdadeiras riquezas,
que até hoje, no mercado financeiro
não valem mais que um vintém...
Sou negro,
não sou mulato;
não tenho cara de mula,
nem sirvo de morada aos carrapatos...
Composição: 16/ 10/ 2009
BIBLIOTECA NACIONAL
Registro: 729.139
Livro: 1.411
Folha: 300